Não se pode falar em violência no futebol sem falar das torcidas organizadas. Elas são responsáveis pela maior parte das brigas, quebra-quebras e mortes no futebol. São elas também que depredam bens públicos e privados, invadem e quebram sedes de clubes e que agridem jogadores que, segundo seu próprio juízo, não amam o seu clube como deveriam.
Especialistas (sempre eles) mencionam a "promiscuidade" existente entre os clubes e as organizadas. Clubes custeiam ingressos, ônibus, dentre outras coisas, para as organizadas. As organizadas, por sua vez, justificam sua importância para o clube na medida em que seus integrantes entoam os cantos de apoio durante o jogo todo e não somente de vez em quando como fazem os torcedores convencionais.
Especialistas asseveram ainda, que temos que eliminar as torcidas organizadas para assim, acabar com a violência no futebol. Tenho que discordar desse posicionamento.
Se acabarmos com as torcidas organizadas, além de deixarmos o futebol "mais triste", não alcançaremos o objetivo almejado: a diminuição da violência. Uma rápida observada na história nos demonstra que os movimentos, partidos ou organizações, ficaram mais fortes depois de terem sido condenados à clandestinidade. E não tenho dúvidas de que isso aconteceria com as organizadas. Ademais, hoje em dia podemos facilmente, pelo seus uniformes diferenciados, identificar os integrantes das organizadas e separá-los dos torcedores convencionais quando se envolvem em alguma situação. Se acabarmos com as organizadas, perderemos esse elemento identificador.
Sou, por conta disso, partidário da manutenção das organizadas. E mais, acredito que elas devem ser "regulamentadas". E o que isso significa? Significa que elas devem ter mais elementos que possibilitem sua responsabilização pelas condutas de seus membros. Ao se identificar que um grupo que depredou um bem público faz parte de uma organizada, esta poderia ser responsabilizada "civilmente" pelos danos. O que ocorre atualmente é que as torcidas organizadas possuem membros "registrados", simpatizantes e pessoas que compram seus uniformes em lojas próprias sem fazer parte da torcida. Se alguém uniformizado com "as cores" da organizada joga uma pedra em um ônibus, quebrando assim seu vidro , não é possível cobrar a organizada pelo prejuízo pois ela poderá, com toda razão do mundo, dizer que nem todos que usam seu uniforme fazem parte de seus quadros. E qual a solução? Obrigar as torcidas organizadas a identificarem cadastrarem seu membros e promover o recolhimento de uniformes que tenham sido vendidos a não membros. E isso deveria ser tão levado à risca que se uma pessoa fosse flagrada com o uniforme da organizada sem pertencer a ela deveria ser processado por falsidade ideológica. Parece exagero? Mas, não é.
Acredito piamente que, à partir do momento que seja possível identificar com certeza que uma briga, confusão ou depredação foi causada por um membro de uma organizada e a mesma possa ser punida por isso, haverá uma pressão interna para que seus membros evitem praticar tais condutas.
Mas, a violência no futebol não está exclusivamente ligada às torcidas organizadas. O futebol desperta paixões e há brigões que não estão necessariamente inseridos nas organizadas. Isso aumenta a necessidade de se identificar os integrantes de uma torcida organizada e "separá-los" dos torcedores comuns.
À partir do momento que seja plenamente possível identificar quem faz parte e quem não faz de uma torcida organizada, podem-se adotar medidas distintas para cada caso de violência praticado por causa do futebol. Inclusive, as respostas no plano do Direito, quer no campo Penal quanto no Civil, poderão ser dadas de acordo com essa diferenciação.
E ainda mais, as políticas de Segurança Pública, no que tange à violência advinda do futebol, poderão também ser pautadas de acordo com esse critério.
O que não podemos deixar acontecer é este cenário que temos hoje em que a violência ligada ao futebol é crescente e não possuímos mecanismos para sequer identificar suas causas ou causadores, quanto mais para controlá-la.
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